
Meu pai casou tarde, pra época dele (31 anos, minha mãe 18). Sou o terceiro filho dos cinco que eles tiveram. Ele é de origem muito humilde: foi torneiro mecânico da Gessy Lever e mais velho, montou um negócio próprio, sem ser da área e com um sócio bem mais novo, bebum (meu padrinho) que depois de matar no trânsito duas crianças, acabou se convertendo aos Alcólicos Anônimos e a uma dessas igrejas libertadoras misturebas.
Quando ele completou 51 anos, resolveu separar em condições péssimas a sociedade, além de ter tido um câncer no estômago.
Na época, eu com 15 anos e minha irmã com 21, tivemos de tocar a empresa, sem a noção em saber se o pai voltaria.
Infelizmente a ocasião não me deu oportunidade de um estudo adequado, e nem vontade tamanha tinha em estudar, também.
Senti a adolescência interrompida, mas em compensação aprendi a dar valor a determinadas coisas que um jovem da minha geração nem imaginava.
Com 21 anos, "precisei" casar, mal terminando uma medíocre faculdade de economia. Tenho 3 filhos, e sei que não consegui dar boas condições de estudo a eles. Acabei segurando o fardo da antiga empresa familiar, enquanto outros irmãos seguiram seus caminhos. Hoje vejo que meus filhos nem se interessam por algo que tenho muito apego, e que faz parte da minha estória - a velha gráfica.
O velho morreu de enfizema, aos 72 anos.
Da referencia que tive dele, procurei ser com meus filhos um pouco mais participativo e democrático.
Tempo passou, sinto muita saudade dele, do jeito simples, da forma sincera e despojada ao tratar as pessoas, das nossas brigas, daquela protetora ditadura singela com a família. Não era perfeito, e hoje sei como foi difícil pras condições que teve, criar tanta gente - além de nós, ajudava muito os parentes próximos, sem distinção. Hoje os meus filhos pensam algo parecido do pai que eles têm, e sei que deixo uma marca grande na formação, como aliás meu pai deixou em mim. Muito mais gente teve muito mais dificuldades que ele, ou que eu aqui. Cada qual, sua estória.
Um comentário:
Zé, emocionei-me muito ao ler sobre seu pai, pois tenho o meu coração apertado de saudade eterna do meu . Ele foi presença constante e marcante em minha vida. Um pai que, mesmo após um dia terrível de luta rodando panos e mais panos nos teares da fábrica em que era um simples contra-mestre, achava tempo e disposição para brincar e divertir seus seis filhos. Eu o aguardava no portão, e ao vê-lo virando a esquina,corria o quanto minhas minúsculas pernas de cinco anos conseguiam e ele me erguia, punha em seus ombros e íamos para casa, onde após o jantar, parco visto que a situação financeira era precária, ele cantava em italiano as óperas de que tanto gostava. Eu ouvia fascinada, e acabava dormindo em seu colo.Essas e outras lembranças povoam meus sonhos, e me enchem de tristeza por não tê-lo mais comigo. Ah..quantas vezes desejei chamar por ele, correr para seu colo e ficar de novo segura, protegida..E já se vão 3 anos de saudade, mas a dor por perdê-lo continua, infinita...
Beijos para você.
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